Quando o Beato João Paulo II
se encontrou pela primeira vez com os líderes religiosos, 25 anos atrás,
o mundo sofria com a Guerra Fria. Para o Papa Bento XVI, embora a
ameaça de uma grande guerra não é evidente hoje, o mundo está cheio de
discórdias, e o terrorismo em nome de uma religião se mostra a forma
mais cruel de violência.
“Sabemos que, frequentemente, o
terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o carácter
religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade
monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do 'bem'
pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da
justificação da violência”, disse o Papa, nesta quinta-feira, 27, em seu
discurso na Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e Justiça no Mundo, que reúne cerca de 300 representantes de diversas religiões, na cidade italiana de Assis.
Para Bento XVI a liberdade é um grande bem, mas o uso da liberdade sem orientação transformou-se em violência.
“A
grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de
crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e
sancionado como limite à violência no direito internacional”, salientou
A
crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a
religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra
as religiões, recordou o Pontífice. Para ele, o fato da religião
motivar a violência é algo que, “enquanto pessoas religiosas, nos deve
preocupar profundamente”.
“Devemos enfrentar estas questões, se
quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência
por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo
inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este
encontro”, enfatizou o Santo Padre.
O Papa lembrou que no
passado, muitas pessoas também recorreram à violência em nome da fé
cristã, algo que sem sombra de dúvida, contraria a verdadeira natureza
desta fé, algo que a “reconhecemo-lo, cheios de vergonha”.
“O
Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os
homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e
constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal
daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o
amar com o outro. O seu nome é 'Deus do amor e da paz' (2 Cor 13,11). É
tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé
cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu
centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja
verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo”, disse o Papa.
Segundo
Bento XVI, ao se colocar acima de Deus, o homem se vê como um juiz
superior justificando o uso da violência de acordo com seus interesses
pessoais e uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica
destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.
“Mas
o 'não' a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi
possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz
superior, mas tomava por norma somente a si mesmo.
Drogas: outra grande ameaça a humanidade
O
domínio das drogas tem destruído principalmente a juventude. Para o
Santo Padre o uso é gerado por um anseio “desenfreado e desumano” na
busca pela felicidade, que na verdade está em Deus. E esta ausência de
Deus leva à decadência do homem e do humanismo.
Muitos assumem
que Deus existe, mas acreditam que não precisam de alguma religião.
Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, salientou o
Papa, um Deus cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões,
devido ao modo como eventualmente são praticadas.
“Que os
agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que creem,
com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta
interior e o seu interrogar-se constituem para os que creem também um
apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se
torne acessível”, afirmou.
Trata-se de nos sentirmos juntos
neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela
dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a
espécie de violência que destrói o direito.
“Concluindo, queria
assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a
violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo
desejo comum de ser 'peregrinos da verdade, peregrinos da paz'”, disse o
Papa.
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Publicado por Canção Nova Play em Segunda, 22 de janeiro de 2018
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