Por Alex Tajra, do UOL
Se antes o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) era alvo preferido das redes bolsonaristas no Whatsapp, no Twitter e no Facebook, agora, em meio à pandemia de covid-19, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), entrou na linha de tiro das postagens.
Nos perfis de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), proliferam os textos com xingamentos e notícias antigas que voltam a circular como se fossem atuais. Na narrativa construída, o governador paulista, que fez campanha utilizando a alcunha "Bolsodoria", é tratado como traidor e é criticado por divergir da postura de Bolsonaro em relação ao novo coronavírus.
Mas mais do que uma discordância técnica, os seguidores de Bolsonaro veem na postura de Doria uma estratégia para derrubar o capitão reformado na corrida presidencial de 2022.
As assessorias de Bolsonaro e de Doria foram procuradas para comentar a reportagem. O Palácio do Planalto afirmou que não vai comentar, e a posição do governador de São Paulo, se enviada, será incorporada a este texto.
Estratégia já vista
s publicações que antagonizam Doria nos perfis bolsonaristas têm características parecidas: correntes que pedem para ser repassadas e montagens de fotos com textos sobrepostos. Os ataques também têm estratégia já conhecida: dão contornos falsos a informações verdadeiras.
Exemplo disso são as notícias sobre a presença de policiais militares na frente da casa de Doria em São Paulo.
"O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mandou bloquear o acesso ao quarteirão onde reside, em um bairro de luxo de São Paulo, após ter sido incomodado com o ruído de eleitores supostamente insatisfeitos. Além do bloqueio no acesso a ruas, dezenas de policiais foram destacados para proteger sua casa da proximidades de cidadãos mal humorados com seu governo", diz uma notícia falsa que tomou as redes dos apoiadores de Bolsonaro nos últimos dias.
Mas há viaturas perto da casa de Doria desde os tempos em que o tucano chegou à Prefeitura de São Paulo. Na última semana, houve intensificação no patrulhamento depois de o governador ter relatado ameaças de morte.
Há também correntes que dizem que Doria proibiu o acesso de caminhoneiros ao Ceagesp, acompanhadas de imagens de alimentos jogados fora. Mas o vídeo traz gravações de fevereiro, quando os armazéns foram atingidos por fortes chuvas. Agora, o local segue operando normalmente.
Sem números Como boa parte dessas mensagens circula no whatsapp, que por motivos de privacidade não permite saber quantas vezes um conteúdo foi compartilhado, não é possível medir o alcance nem se houve aumento nas menções.
Mas há indícios de que a polarização entre Doria e Bolsonaro chegou às redes sociais.
Em um grupo de Bolsonaristas que reúne mais de 50 mil usuários no Facebook, nas últimas 24 horas, ao menos cinco posts eram dedicados a atacar Doria.
E a Stilingue, ferramenta que analisa diariamente conteúdos publicados na internet, identificou um pico de citações a Doria em 25 de março em redes como Facebook, Instagram, Twitter e Youtube.
13% das mais de 2 milhões de ocorrências do nome do governador paulista registradas no mês se deram nesse dia —marcado pela discussão entre Bolsonaro e Doria durante videoconferência.
Ao longo do final da semana passada, deputados, movimentos, influenciadores e apoiadores de Bolsonaro alçaram a hashtag #ImpeachmentDoDoria às principais do país no Twitter. Na sexta-feira (27), o termo figurou entre os mais comentados do mundo na rede social.
Maia permanece na mira
Maia permanece na mira Apesar de Doria estar na linha de frente, Maia segue na mira dos bolsonaristas nas redes.
Mais uma vez os fatos são enlaçados em retóricas falsas para atacar o parlamentar e defender Jair Bolsonaro. No caso de Maia, as "críticas" têm relação mais com sua atuação no Parlamento do que com as medidas relacionadas ao novo coronavírus.
Duas pautas específicas incomodam os bolsonaristas e atiçam a indústria de "memes": as MPs (Medidas Provisórias) da Carteirinha Estudantil e do 13º salário para os beneficiários do Bolsa Família. Para os apoiadores de Bolsonaro, Maia seria o responsável por essas medidas terem caducado (perdido a validade).
No caso da primeira, a reportagem do UOL apurou, no começo de fevereiro, que o próprio governo federal foi corresponsável pela perda de validade da MP. Não houve diálogo do Executivo, e, consequentemente, não houve discussão no Congresso. As crises com o ministro Abraham Weintraub também contribuíram para que a MP não avançasse.
Já a MP que garantia o 13º salário aos beneficiários do Bolsa Família passou por um processo de reformulação para ser mais extensa, e foi alterada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede), relator da medida.
Randolfe defendeu que o 13º fosse estendido às pessoas que recebem o BPC (Benefício de Prestação Continuada). O governo não gostou das mudanças passou a jogar contra a MP e atuou para que ela não fosse aprovada.
Deputados bolsonaristas como Bia Kicis (PSL) também atuaram durante todo o processo para que a MP perdesse a validade, postergando sua votação.
Deputados bolsonaristas como Bia Kicis (PSL) também atuaram durante todo o processo para que a MP perdesse a validade, postergando sua votação.
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