Lula tentou combinar falso testemunho sobre reuniões com delator, diz Palocci. Ex-ministro conta em delação que foi procurado em 2014 para assumir responsabilidade por encontros do ex-presidente com executivo da Sete Brasil que confessou propinas nos contratos de navios-sondas do pré-sal para a Petrobrás
Foto: do site Brasil247
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O Estado de S. Paulo - Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Luiz Vassallo
O delator Antonio Palocci afirma que, em 2014, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o procurou para tentar combinar falso testemunho sobre encontros com João Carlos de Medeiros Ferraz, o ex-gerente da área de Finanças da Petrobrás que montou e virou presidente da Sete Brasil – empresa criada e contratada por US$ 22 bilhões para fornecer os primeiros 28 navios-sondas para exploração os poços de petróleo do pré-sal. A proposta teria sido feita quando a Operação Lava Jato já estava nas ruas e começava a chegar no esquema de corrupção nos negócios da estatal.
“Ele (Ferraz) foi falar com o presidente Lula sobre as dificuldades que ele tinha na Sete, pedindo apoio”, afirmou o ex-ministro da Fazenda do primeiro governo do PT e ex-Casa Civil de Dilma Rousseff. “O próprio presidente Lula me falou, porque ele (Ferraz) foi duas vezes ao presidente Lula e o presidente Lula queria depois que soube que o João Ferraz tinha pego propina, o presidente Lula queria que eu assumisse que eu tinha levado o Ferraz lá.”
Palocci narrou em um dos termos de seu acordo de colaboração premiada fechado com a Polícia Federal em Curitiba, homologado em junho, e que serve também para investigação da Operação Greenfield, sobre desvios em fundos de pensão de estatais, que o ex-presidente da Sete Brasil buscou apoio de Lula quando ele já não era mais presidente, entre 2012 e 2013, para os negócios da empresa.
Formada pela Petrobrás em sociedade com investidores, entre eles os fundos de pensão de estatais Previ, Funcef e Petros, e os bancos BTG, Santander e Bradesco, a Sete serviu para contratar os estaleiros para construção dos primeiros 28 navios-sondas e fornece-los em funcionamento para a estatal.
Em 2014, a Lava Jato descobriu que todos os contratos tinham acerto de 1% de propinas, que era divididas entre políticos do PT e os agentes públicos envolvidos. O ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco – que era uma área dominada pelo partido – foi o primeiro a confessar o esquema. Como Ferraz, ele ajudou a criar a Sete Brasil e em 2011 saiu da estatal para ser diretor de projetos na empresa. Ferraz outro ex-executivo da Sete Brasil, Eduardo Musa, fecharam delação em 2015, confirmaram o revelado por Barusco e terem recebido propinas nos negócios de navios-sondas.
“Todos nós precisamos muito dele e de suas orientações e sabermos que ele está em processo de franca recuperação nos enche de esperanças e felicidades.” Em 2012 Lula se recuperada depois de um tratamento contra câncer na laringe iniciado no final de 2011.
Documento da equipe de peritos da Lava Jato registra que os e-mails do Instituto Lula mostram que o ex-presidente se “encontrava informado pari e passu da fase final do processo de contratação das Sondas com a Odebecht, mesmo após sua saída do governo”.
Ferraz agradece em uma das mensagens Clara Ant e “ao destinatário deste e-mail todo o fundamental apoio para que fosse possível chegarmos a este momento”.
“Vale notar que temos investidores e recursos financeiros suficientes para realizarmos novos investimentos em diferentes setores industriais do País, diversificando investimentos em relação às nossas sondas.”
Palocci detalhou na delação as ordens de arrecadação de propina dadas por Lula antes da criação da Sete Brasil e sua atuação posterior para manter o negócio. No Termo 01 da delação, tornado público pelo juiz federal Sérgio Moro, da Lava Jato em Curitiba, no dia 1.º, relata uma suposta reunião na biblioteca do Palácio da Alvorada, no início de 2010, em que o ex-presidente teria exigido que os contratos do pré-sal fossem feitos com estaleiros no Brasil e que os contratos pagassem a campanha de Dilma Rousseff, sua sucessora – eleita naquele ano, reeleita em 2014 e cassada em 2016.
As revelações sobre o pedido de Lula fazem parte do acordo e parte delas foram citadas em depoimento prestado à Polícia Federal em consequência de sua delação com a Lava Jato, no âmbito da Operação Greenfield, de Brasília – que apura desvios nos fundos de pensão.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA
A defesa do ex-presidente Lula disse que Palocci não apresentou nenhuma prova contra o ex-presidente, ‘para obter generosos benefícios’ e que mente.
“Palocci mente sobre Lula para sair da prisão e para recuperar parte significativa dos valores que estavam em suas contas e que foram bloqueados pela Justiça”, informou o criminalista Cristiano Zanin Martins, em nota.
“Sua delação é tão mentirosa que foi recusada até pela Lava Jato de Curitiba, que sempre perseguiu Lula. Trata-se de Lawfare, quando há o uso de manobras jurídicas para manipular a política.”
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