Parcelar impostos neste começo de ano pode ser a melhor maneira de
evitar um desequilíbrio no orçamento nos próximos meses, alertam
especialistas em finanças pessoais ouvidos pelo UOL.
No país inteiro, os contribuintes já estão recebendo os boletos de pagamentos do IPTU e do IPVA.
O pagamento à vista dos impostos pode representar descontos
interessantes (10% no caso do IPVA no Rio de Janeiro, por exemplo). Mas,
ainda que o desconto pareça vantajoso num primeiro momento, o
contribuinte precisa fazer algumas contas antes de tomar uma decisão.
"É muito comum as pessoas olharem os benefícios do desconto e se
esquecerem dos compromissos futuros", diz o educador financeiro Reinaldo
Domingos.
Ele sugere que quem tem dinheiro suficiente para pagar os impostos à
vista avalie se não poderá precisar desses valores daqui a alguns meses.
"Não adianta pagar à vista agora e lá na frente cair no cheque especial
se surgir uma emergência. Se essa for toda a reserva que a pessoa tem, é
melhor parcelar", diz Domingos.
Mauro Johashi, da consultoria BDO, concorda. "O contribuinte precisa
ponderar que tem outros gastos no começo de ano, como a aquisição do
material escolar."
Pedir empréstimo, só em último caso
O presidente do conselho e diretor de economia da Anefac (Associação
Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade),
Roberto Vertamatti, afirma que, para quem tem o dinheiro em alguma
aplicação financeira, pode ser mais interessante deixar o valor
investido e parcelar o imposto.
"Se a previsão de rendimento da aplicação for maior do que o desconto
dado no pagamento do imposto, é melhor deixar o dinheiro aplicado", diz.
"Mas, se a previsão de rendimento da aplicação for menor, então é
interessante resgatar o dinheiro da aplicação e pagar à vista, com
desconto", afirma.
Pedir empréstimo para pagar os tributos deve ser a última opção do
contribuinte, diz o professor de finanças pessoais do Insper Instituto
de Ensino e Pesquisa Ricardo Humberto Rocha.
Segundo ele, não compensa, por exemplo, usar o financiamento para
quitar os impostos à vista. Essa seria a opção apenas de quem não tem
condições de pagar nem as parcelas neste momento. "E, se puder escolher,
ele deve optar pelo crédito consignado e evitar o cheque especial", diz
o professor.
Rocha sugere, ainda, que o contribuinte aproveite para já começar a
fazer uma reserva para as contas do ano que vem. "Use como referência o
valor deste ano, divida em 12 parcelas e aplique em um fundo ou mesmo na
caderneta de poupança", aconselha.
Veja a melhor forma de pagar os impostos, segundo especialistas:
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Tenho o valor integral para pagamento dos impostos em mãos, e
esse dinheiro não vai me fazer falta nos meses seguintes. É interessante
pagar à vista?
Sim, porque o consumidor poderá obter descontos interessantes sobre o
valor devido. Em São Paulo e em Minas Gerais, quem paga o IPVA de uma só
vez ganha desconto de 3%. No Paraná, é de 5% e, no Rio de Janeiro, de
10%. Já o desconto concedido para pagamento à vista do IPTU em São Paulo
é de 6% e no Rio, de 7%.
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Na mesma situação, valeria a pena eu investir o dinheiro e pagar o IPTU parceladamente?
Isso só é interessante se o rendimento da aplicação financeira for
maior do que o desconto obtido no pagamento à vista. O diretor da Anefac
Roberto Vertamatti diz que a expectativa de rendimento em dez meses
para a renda fixa está entre 7,5% e 8%. Assim, pode ser interessante
pagar o IPTU em São Paulo parceladamente, abrindo mão do desconto de 6%,
que é mais baixo, e investir o valor por esse período.
Segundo Vertamatti, como o prazo de pagamento do IPVA é menor (três
meses), vale sempre a pena sacar o dinheiro da poupança e ou da renda
fixa. O rendimento mensal de poupança é de 0,6% e, da renda fixa, de
0,8%. Em três meses, assim, o percentual não chega aos 3% de desconto
dados no pagamento à vista.
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Tenho dinheiro suficiente para quitar os impostos, mas está
investido. Vale a pena eu retirar o dinheiro da aplicação para pagar os
impostos à vista?
O raciocínio, aqui, é o mesmo da situação anterior: se a previsão de
rendimento da aplicação for maior do que o desconto dado para o
pagamento à vista, então é melhor deixar aplicado. Caso a previsão de
rendimento da aplicação seja menor, então seria interessante resgatar o
dinheiro da aplicação e pagar à vista, com desconto.
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Tenho o valor integral para pagamento do imposto em mãos, mas essa é minha única reserva financeira.
Se esse for o único dinheiro que você tem para uma emergência, é melhor
parcelar, diz o educador financeiro Reinaldo Domingos. Parcelando, você
abre mão do desconto, mas evita cair futuramente em financiamentos que
têm juros muito mais altos, como o cheque especial (8,41% ao mês em
novembro de 2011, segundo a Anefac).
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E se eu perdi o prazo para pagamento à vista com desconto, o que faço?
Quem perde o prazo para pagamento com desconto ou da primeira parcela
do IPVA não consegue mais parcelar depois. O contribuinte terá,
obrigatoriamente, de pagar o valor total, sem desconto, na data de
vencimento seguinte. No caso do IPTU, geralmente o contribuinte que
perde a primeira data de pagamento precisa fazer o parcelamento, também
sem desconto.
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Não tenho esse valor integral. Compensa pedir empréstimo para pagar à vista ou é melhor parcelar?
Não. Nesse caso, é melhor parcelar
. Segundo a Anefac,
os juros do empréstimo consignado, que são os mais baixos do mercado,
giram em torno de 2% mensais, o que dá algo em torno de 21,9% em dez
meses. No caso do IPTU, por exemplo, é um percentual muito distante dos
6% de desconto para pagamento à vista.