Em nota oficial, a Arquidiocese de Olinda e Recife afirma que dom Limacêdo 'defende os direitos humanos'. 'Não poderia deixar de mencionar quais posicionamentos devem pautar a vida de um cristão. O direito à vida, à justiça e à liberdade', diz o texto.
Documento mostra notificação de bispoa-auxiliar do recife por suposta propaganda eleitoral irregular — Foto: Reprodução/WhatsApp
Por G1 PE
O bispo-auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Limacêdo Antônio, foi notificado pelo Tribunal Regional Eleitoral em Pernambuco (TRE-PE) por suposta propaganda eleitoral irregular em uma missa. O documento diz que ele deve se abster de “fazer propaganda eleitoral em benefício de quaisquer candidatos, em templos religiosos, em face de proibição legal.”
Segundo o assessor do TRE-PE Orson Lemos, na quinta-feira (25), gravações de uma missa presidida pelo bispo-auxiliar foram enviadas para o Sistema Pardal, que recebe denúncias de irregularidades eleitorais. O mandado de notificação foi entregue no mesmo dia, na Arquidiocese de Olinda e Recife.
O documento de intimação, assinado pelos juízes da comissão de propaganda eleitoral do Recife, aponta que o tribunal recebeu informações de que dom Limacêdo estaria fazendo “apologia a certa candidatura e dizendo para não votar na outra, induzindo os votos dos fiéis”.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que o bispo-auxiliar fala sobre a vida e aborda o tema eleitoral. “Não se pode votar em quem defenda a tortura. Quem defende tortura não defende a vida”, afirma, sem citar nomes de qualquer candidato.
Na missa, o bispo-auxiliar prossegue falando sobre seu ponto de vista: “Defender a vida é defender políticas públicas para as pessoas estudarem e para o jovem ter acesso à universidade. É cuidar dos idosos”, declarou.
Limacêndo Antônio manda uma mensagem para os devotos: “Defesa da vida não é votar em quem alimenta e defende a tortura. É votar em quem defende a democracia. Quem defender a ditadura, não vote, pelo amor de Deus”.
Depois, fala sobre a ditadura militar. “Muita gente morreu no país, minha gente, para a gente poder votar, para a gente poder dizer o que pensa, mesmo errado. Democracia é isso, eu poder expressar aquilo que sinto lá dentro. A ditadura não permite ninguém dizer o que pensa".
Segundo o assessor do TRE-PE Orson Lemos, o bispo-auxiliar não falou em nomes de candidatos nem de partidos. Dom Limacêdo não sofrerá nenhuma punição, segundo o TRE.
“Ele pode votar e continuar presidindo missas normalmente. Caso ele se torne reincidente, o juiz da propaganda pode abrir um procedimento”, acrescentou.
Lemos afirmou que essa é a terceira intimação feita a líderes religiosos desde o primeiro turno das eleições, em 7 de outubro. O primeiro foi o bispo anglicano Paulo Garcia, e o outro, o padre Evilásio Medeiros, da Paróquia do Pina. “Também já fizemos ações em duas igrejas evangélicas”, disse Lemos.
Resposta da Arquidiocese
Em nota oficial, a Arquidiocese de Olinda e Recife afirma que em nenhum momento dom Limacêdo cita o nome de nenhum candidato.
“Durante toda sua homilia, dom Limacêdo defende os direitos humanos, o direito à vida e uma vida plena, segura e justa, livre de qualquer injustiça, conforme é ensinado no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Menciona que este é o pensamento que deve nortear qualquer cristão, principalmente no momento social em que nos encontramos, no momento do voto, na escolha do líder que irá direcionar os próximos passos da nação brasileira”.
O texto ainda diz que o religioso “deixa livre, que de outra maneira não poderia ser, para os fiéis escolherem em quem suas convicções os orientarem a votar”. E prossegue: “Contudo, como pastor do rebanho de Cristo, não poderia deixar de mencionar quais posicionamentos devem pautar a vida de um cristão. O direito à vida, à justiça e à liberdade”.
Ainda na nota, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, se solidariza com dom Limacêdo, “reafirmando o posicionamento da Igreja em favor da vida e das liberdades de toda pessoa humana”.