O Ministério Público de Pernambuco fez uma solicitação ao Hospital
Tricentenário de Olinda, na região metropolitana do Recife, para que uma
paciente de 54 anos com suspeita da doença de Creutz-feldt-Jakob,
também conhecida como “
mal da vaca louca”, não deixe a unidade de saúde até a confirmação da enfermidade, o que só pode ocorrer após a morte da mulher.
A solicitação, que deu um prazo de 48 horas para aceitação ou não do
hospital, já foi acatada pela unidade de saúde, que informou nesta
terça-feira (20) que não vai transferir a paciente, como havia
solicitado a família, atendendo à recomendação do MP.
Segundo recomendação, expedida nesta segunda-feira (19), para ter o
diagnóstico confirmado, a paciente precisa passar por uma bateria de
exames, sendo a necropsia um deles. Para a análise genética em sangue
periférico e o exame de necropsia, é necessária a autorização da
família, mas os responsáveis teriam se recusado a assinar os documentos.
Ainda segundo o MP, a família teria pedido a transferência da paciente,
natural do município do Cabo de Santo Agostinho --que fica no outro
extremo da região metropolitana da capital pernambucana-- para casa, o
que colocaria em risco a saúde pública. Para a promotora de Defesa da
Cidadania de Olinda, Helena Capela Gomes, a saída do hospital resultaria
em “grave risco sanitário da doença e da situação da paciente”, caso
ela fosse levada para casa. O MP cita resolução da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), que diz que o agente responsável pela
patologia (príon) é altamente estável e resistente à maioria dos
desinfetantes.
Dano neurológico
A coordenadora do setor de paciente com cuidados paliativos do Hospital Tricentenário de Olinda, Izabel Ferraz, informou ao
UOL que
a paciente está internada há 15 dias, respira espontaneamente, mas tem
um dano neurológico significativo. "Ela não fala, não anda e está com
uma sonda para se alimentar e respirar melhor. Desde que ela chegou o
quadro está inalterado”, disse.
Ferraz contou que a paciente deu entrada na principal emergência do
Recife, o Hospital da Restauração, que levantou a suspeita do
diagnóstico e a encaminhou para a unidade especializada em cuidados
paliativos, em Olinda. Segundo ela, o quadro neurológico apresentado
pela paciente pode apresentar melhora ou permanecer por meses ou até
anos inalterado.
“Não há qualquer previsão de quando esse quadro que ela se encontra
mudará. Vai durar até quando Deus quiser. Têm pacientes semelhantes que
se recuperam, outros morrem. A gente está dando suporte, tudo o que é
necessário. A doença, caso confirmada, enquanto em vida não contamina
ninguém. Mas mesmo assim a paciente está em uma enfermaria isolada, mas
para ser mais confortável à família, já que tem gente que vem do
interior e pode ficar todo mundo com ela”, afirmou, citando que a
paciente teria condições de ser levada para casa, desde que a família se
responsabilizasse por alguns cuidados que, hoje, são feitos no
hospital.
Só após a morte
Ferraz disse que o hospital nunca havia recebido um paciente com
suspeita do “mal da vaca louca”, mas informou que a confirmação se a
mulher está ou não contaminada só virá após a morte.
“Essa confirmação virá apenas após a morte porque a proteína fica
alojada no cérebro, não tem como examinar em vida. Até lá, a paciente
não irá contaminar ninguém. Mas após a morte, se enterrada de forma
comum, a proteína pode se espalhar pelo solo, e as pessoas no entorno
podem ser contaminadas. Por isso que nós fizemos a notificação –que é
compulsória-- à Vigilância Sanitária”, explicou.
A reportagem do
UOL tentou entrar em contato com a
família da paciente, mas acompanhantes da mulher informaram, por meio da
assessoria do hospital, que não gostariam de comentar o assunto. Os
familiares não informaram se vão recorrer à Justiça para tentar
transferir a paciente para outro hospital ou mesmo levá-la para casa,
como alega o MP.
Fonte:Uol