MELCHIADES FILHO *
A CPI havia confirmado as denúncias feitas à Folha semanas antes por Roberto Jefferson quando, em agosto de 2005, Lula entrou em rede nacional de TV e disse que o governo e o PT tinham de 'pedir desculpas': 'Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis, das quais não tive conhecimento'.
Em entrevista na virada daquele ano, o presidente reiterou que havia levado uma 'facada nas costas'. O partido cometera 'um erro de gravidade incomensurável' e precisaria 'sangrar muito para poder se colocar diante da sociedade outra vez com credibilidade'.
Àquela altura, o PT já tinha sido submetido a uma temporada de purgação. Associada ao esquema ilegal de financiamento, sua direção caíra inteira. Interessado em se desgarrar do escândalo, Lula estimulou o ato público de contrição.
O mensalão só passou a ser 'desconstruído' depois que a imprensa desmontou a versão do presidente, revelando que ele, se não tinha pessoalmente autorizado as reinações do tesoureiro Delúbio Soares, havia sido alertado sobre elas muito antes da entrevista-bomba de Jefferson. Virou 'farsa' e 'tentativa de golpe' apenas quando Lula conseguiu reagrupar apoio político.
Em 2010, quando, em resposta ao Ministério Público, ele finalmente abandonou o discurso do 'eu não sabia', a máquina federal já rodava forte para blindar o presidente.
A PF tinha pisado no freio. Os saques nas contas do PT irrigadas pelo valerioduto não foram rastreados. O inquérito que comprovou o desvio de dinheiro público mal andava. Só seria concluído no ano seguinte, à revelia, custando uma 'geladeira' ao delegado responsável -advertido, curiosamente, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que, na época de deputado, adorava criticar o PT mensaleiro.
Réu mais célebre do mensalão, o ex-ministro José Dirceu em boa medida paga o pato pelo ex-chefe. (* Folha de S.Paulo)
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