CURITIBA (Reuters) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, que não há pergunta difícil quando se diz a verdade e afirmou que “nunca houve a intenção de adquirir” o tríplex no Guarujá (SP), um dos objetos do processo no qual é réu.
“Não tem pergunta difícil, doutor. Quando se fala a verdade, não tem pergunta difícil”, afirmou Lula no depoimento de cerca de cinco horas.
No depoimento, Lula também disse considerar o processo ilegítimo e a denúncia formulada pelo Ministério Público, e aceita por Moro, de uma “farsa”.
“Como eu considero esse processo ilegítimo e a denúncia uma farsa, eu estou aqui em respeito à lei , em respeito à nossa Constituição, mas com muitas ressalvas ao comportamento dos procuradores da Lava Jato”, disse.
Segundo a acusação, o tríplex teria sido dado a Lula pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras.
O imóvel teria sido reformado e eletrodomésticos teriam sido adquiridos para atender à família do ex-presidente. Os procuradores também afirmam que a OAS pagou despesas de armazenamento de bens pessoais do acervo presidencial da época que Lula governou o país.
“Não havia no início e não havia no fim… nunca houve a intenção de adquirir o tríplex”, disse o ex-presidente, questionado sobre a intenção de sua falecida mulher, Marisa Letícia, comprar o apartamento quando adquiriu a cota da cooperativa dos bancários Bancoop.
“Eu tomei conhecimento desse apartamento em 2005 e fui voltar a discutir esse apartamento em 2013, só isso”, continuou. “Somente em 2013 é que fui ver esse tal tríplex”, disse.
“Eu fui lá ver o apartamento, coloquei 500 defeitos no apartamento, voltei e nunca mais conversei com o Léo sobre o apartamento”, acrescentou, referindo-se ao ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Lula disse ter ficado sabendo que sua mulher chegou a visitar o imóvel uma segunda vez, em 2014. “Dona Marisa tinha uma coisa importante, ela não gostava de praia, nunca gostou. Certamente, ela queria o apartamento para investimento.”
No depoimento, o ex-presidente também disse que era sua mulher que era responsável por cuidar das questões envolvendo a cota da Bancoop que ela adquiriu e que não sabia quanto havia sido pago desta cota.
“Vou apenas repetir se quiser, até para economizar tempo, que a minha relação com o famoso apartamento da Bancoop é de quando a minha mulher comprou, que foi (declarado no) Imposto de Renda, à primeira visita do Léo para me falar que eu tinha que visitar o apartamento porque estava terminando o prédio.”
“Eu nunca entrei nos porões do (Palácio da) Alvorada para saber se tinha uma, duas ou mil caixas. Nunca entrei no acervo da Presidência para saber se tinha caixas, é uma coisa privada mas que tem interesse público”, disse.
“Eu, se soubesse que ia dar isso, teria deixado no palácio para o próximo presidente cuidar”, negando que soubesse que a armazenagem seria custeada pela OAS.
No início da audiência, Moro negou qualquer divergência pessoal com o ex-presidente.
“Eu queria deixar claro que, em que pese algumas alegações neste sentido, da minha parte não tem qualquer desavença pessoal em relação ao senhor ex-presidente. O que vai determinar o resultado desse processo no final são as provas que vão ser colecionadas e a lei”, disse.
O juiz negou também que houvesse a intenção de mandar prender o ex-presidente durante o ato processual.
“Houve alguns boatos que haveria a possibilidade de ser decretada a sua prisão durante este ato e isso são boatos que não têm qualquer fundamento”, disse Moro.
Já no final do depoimento, procurou dar um tom mais político a suas declarações, dizendo que está sendo julgado pelo que fez no governo.
“Eu gostaria de dizer que eu estou sendo vítima da maior caçada jurídica que um presidente e um político brasileiro já teve”, disse Lula em suas considerações finais. “Estou sendo julgado pelo que fiz no governo.”
“O que se conseguiu garimpar de prova incriminadora foi nada. Depois que ficou claro que o presidente é inocente, tentou se questionar sobre a política de governo que o presidente fez no país”, disse o advogado Cristiano Zanin Martins.
“Isso é um gesto político. As perguntas feitas não são de um processo jurídico e judicial, mas julgam avaliar suas políticas de governo”, disse o advogado.