Queda de Bolsonaro reflete noticiário negativo sobre campanha do PSL e a divisão da sociedade brasileira. Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira mostra distância entre Haddad e Bolsonaro diminuir.
Os candidatos a presidente Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) Foto: Arquivo O GLOBO
O Globo - Guilherme Evelin
A pesquisa do instituto Datafolha divulgada ontem confirmou a tendência captada dois dias antes pelo Ibope: na reta final do segundo turno, Fernando Haddad está com viés de alta, enquanto as intenções de voto em Jair Bolsonaro , frente ao conjunto do eleitorado, estão em queda. Em uma semana, pela medição do Datafolha, a distância de Bolsonaro para Haddad caiu de 18 para 12 pontos . A três dias da eleição, ainda é uma vantagem considerável, mas que pode ser revertida. A redução da dianteira do candidato do PSL confere uma emoção adicional a essa campanha eleitoral repleta de lances imprevisíveis.
Como acentuou o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, ainda não é possível saber se essa tendência representa uma transferência contínua de votos para Haddad. A cada pleito, os eleitores, cada vez mais, deixam a definição do voto para o último momento, na boca de urna. Essa é uma tendência mundial intensificada pela ampla disseminação das redes sociais e pelo bombardeio de informações ao qual os eleitores passaram a ser submetidos. Um fator que tende a aumentar a volatilidade do cenário nessa reta final é a fatia do eleitorado que se declara sem candidato: segundo o Datafolha, 14% dos eleitores tendem a votar em branco ou nulo ou ainda se declaram indecisos. Em eleições anteriores, essa taxa, no segundo turno, girava em torno de 10%.
Além do noticiário negativo a que foi exposto o candidato do PSL nos últimos dias, por causa da investigação iniciada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as suspeitas de caixa 2 na contratação de serviços de propaganda na Whatsapp, a queda de Bolsonaro reflete também a intensa divisão política da sociedade brasileira. A onda de crescimento da sua candidatura, logo após o primeiro turno, talvez tenha obscurecido o fato de que o candidato do PSL é, desde sempre, uma figura altamente divisiva. As declarações autoritárias do filho Eduardo sobre o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do próprio Bolsonaro sobre a prisão ou exílio dos seus adversários políticos reavivaram a alta rejeição ao capitão. Esse será um fator complicador para o seu governo, em caso de vitória no domingo.
A luz amarela acendeu para Bolsonaro, ainda que a manutenção de sólidas vantagens nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste, a mais populosa do país, sejam trunfos para a sua campanha. A subida de Haddad dá alento ao PT, que conta com uma militância aguerrida que, em outras eleições, fez a diferença. Como dizia o ex-vice-presidente Marco Maciel, em uma das várias tiradas espirtuosas atribuídas a ele, resta agora saber se a curva de alta de Haddad será forte o suficiente para que ele ultrapasse Bolsonaro até que as urnas sejam abertas no domingo.