Bento XVI: ''A Igreja não é a luz, mas recebe a luz
de Cristo, acolhe-a para ser por ela iluminada e para difundi-la em
todo o seu esplendor''
Na esteira do Tempo Litúrgico do Natal, o Santo Padre falou sobre os mistérios do Natal e da Epifania. "O Natal celebra o fato histórico do nascimento de Jesus em Belém. A Epifania, nascida como Festa no Oriente, indica um fato, mas, sobretudo, um aspecto do mistério: Deus revela-se na natureza humana de Cristo e esse é o sentido do verbo grego epiphaino, tornar-se visível", explica.
"Podemos quase dizer que, na Festa do Natal, sublinha-se o escondimento de Deus na humildade da condição humana, no Menino de Belém. Na Epifania, ao contrário, evidencia-se o Seu manifestar-se, o aparecer de Deus através desta mesma humanidade", destacou.
"Qual é a primeira reação diante desta extraordinária ação de Deus, que se faz criança, que se faz homem? Penso que a primeira reação não pode ser outra que não alegria", questionou e respondeu Bento XVI. E de onde nasce essa alegria? O Papa indica:
"Diria que nasce do estupor do coração em ver o quanto Deus nos é próximo, o quanto pensa em nós e age na história. O Natal é alegria porque vemos e estamos finalmente seguros de que Deus é o Bem, a Vida, a Verdade do homem e se abaixa até o homem para levantá-lo a Si. Deus torna-se tão próximo a ponto de se deixar ver e tocar".
Nessa perspectiva, o Natal é o ponto em que céu e terra unem-se. Esse fato é descrito pela expressão admirabile commercium, isto é, admirável intercâmbio entre divindade e humanidade.
"O Verbo assumiu a nossa humanidade e, em troca, a natureza humana foi elevada à dignidade divina. O segundo ato do intercâmbio consiste na nossa real e íntima participação na natureza divina do Verbo. [...] O Natal é, portanto, a festa em que Deus se faz tão próximo ao homem a ponto de partilhar o seu próprio ato de nascer, para revelar-lhe a sua dignidade mais profunda: aquela de ser filho de Deus. E, assim, o sonho da humanidade iniciado no Paraíso – queremos ser como Deus – realiza-se de modo inesperado não pela grandeza do homem, que não pode se 'fazer Deus', mas pela humildade de Deus, que desce e assim entra em nós na sua humildade e nos eleva à verdadeira grandeza do seu ser".
O Papa destaca que a Eucaristia é a modo mais concreto em que esse maravilhoso intercâmbio se realiza. Da mesma forma, disse que o Evangelho é a luz a não se esconder, mas colocar sobre a mesa. "A Igreja não é a luz, mas recebe a luz de Cristo, acolhe-a para ser por ela iluminada e para difundi-la em todo o seu esplendor. E isso deve acontecer também na nossa vida pessoal".
Enfim, apontou que o Natal é deter-se no contemplar daquele Menino, o Mistério de Deus que se faz homem na humildade e na pobreza.
"Mas é, sobretudo, acolher novamente em nós mesmos aquele Menino, que é Cristo Senhor, para viver da sua mesma vida, para fazer sim que os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações, sejam os nossos sentimentos, os nossos pensamentos, as nossas ações. Celebrar o Natal é, portanto, manifestar a alegria, a novidade, a luz que esse Nascimento trouxe a toda a nossa existência, para sermos também nós portadores de alegria, da verdadeira novidade, da luz de Deus aos outros".
A audiência
O encontro do Santo Padre com os cerca de 9 mil fiéis reunidos na Sala Paulo VI, no Vaticano, aconteceu às 10h30 (horário de Roma - 7h30 no horário de Brasília).
Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:
"Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! O Natal é um convite a contemplar no Menino Jesus o Mistério de Deus que se faz homem na humildade e pobreza, e, sobretudo, a acolher em nós mesmos este Menino, que é o Cristo Senhor, para fazer com que os seus sentimentos, pensamentos e ações sejam também os nossos. Portanto, sede portadores da alegria, novidade e luz de Deus manifestadas no Natal. De todo o coração, desejo-vos um Ano Novo abençoado".