Caríssimos bispos:
Me chamo Pe. Alfredo Veiga, sou psicólogo, formado pela Universidade Mackenzie, com dois doutorados, um em História Social pela USP e outro em Psicologia Social pela PUC-SP.
Minha fala é como acadêmico e psicólogo, não como padre, pois, de fato, se dá muito pouca atenção ao que simples padres falam. O caso a seguir é um exemplo disso:
No dia 1º de fevereiro de 2022 ficamos estarrecidos com uma notícia que percorreu o país:
Um padre morto no chão da igreja na qual dedicou parte de seu ministério com um frasco de veneno ao seu lado e uma longa carta de desabafo.
O presbítero, em questão, se somava ao número cada vez mais crescente de padres que tiram a própria vida anualmente.
No ano de 2021, oficialmente se reportou nove suicídios de padres no Brasil.
Nós, psicólogos, não costumamos procurar culpados. Nessa carta deixada pelo padre, ele expõe a falta de reconhecimento e acolhida de outros sacerdotes. Esses, que teriam sido uma espécie de "algozes", segundo a carta, de fato não o foram.
Os senhores bispos, também não, e falo isso não como consolo, porque todos os que sobrevivemos ao atentado do referido sacerdote contra a própria vida, já estamos todos mortos, talvez de maneira bem pior do que aquele que matou a si mesmo.
Somos todos assassinos, pois nossas dioceses se transformaram em empresas, nossos bispos e nossos padres em burocratas, nossas liturgias em um apaziguador das nossas consciências pesadas.
Já perceberam que quando ouvimos uma notícia terrível como essa, simplesmente viramos a página, não fazemos nada e vamos cuidar da nossa vidinha paroquial?
Gostamos de dizer que estamos cansados, que o trabalho paroquial ou diocesano nos consome, mas o que nos consome mesmo é a nossa indiferença.
Alguns anos atrás um jovem padre, da nossa diocese, na noite de natal, enquanto seus colegas erguiam taças de alguma bebida cara, após as celebrações, e sem tê-lo convidado para a festa, esse padre subiu alguns andares de um prédio e se lançou ao chão.
Antes de morrer, ficou horas, sozinho, agonizando. Agonizando a indiferença, a falta de reconhecimento, a falta de afeto....
Fonte : Pe. Alfredo Veiga, sou psicólogo, formado pela Universidade Mackenzie
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